sábado, 8 de maio de 2010

Sebastião [do Mundo] Salgado.

      Nas linhas que aqui se fizeram, muito foi exposto sobre arte, seja literária, seja musical... Acho oportuno reiniciar as postagens desse blog, explanando acerca de uma arte que, a meu ver, é muito mais democrática do que qualquer outra, a imagem. A fotografia tem sua sensibilidade notada tanto pelo rico mais intelectualizado, quanto pelo pobre analfabeto. Traz em si, o que se chama de contextualização da arte com a sociedade, e essa característica é bastante pungente nas fotografias do brasileiro Sebastião Salgado.
      Sebastião Salgado, mineiro, formado em Economia pela USP, iniciou seu percurso pela fotografia em uma viagem ao continente africano. É o fotógrafo brasileiro mais premiado e mais respeitado internacionalmente. Recebeu prêmios -  World Press Photo, por exemplo - que o firmaram como um dos mestres da fotografia documental contemporânea.
      Seus trabalhos documentam desde refugiados, imigrantes, crianças; até a África, megalópoles e a luta pela terra. Adepto da fotografia engajada, sempre trabalhando com fotos em preto e branco, Sebastião tece a crítica social muda, mas que salta aos olhos como se gritasse a miséria e a degradação do homem pelo próprio homem.
   O fotógrafo vive atualmente na França, de onde lança seu olhar crítico, que muitos denominam de fotografia “mundo cão”. Essa expressão pode agregar um caráter pejorativo ao seu trabalho, no entanto, o que suas fotografias retratam nada mais é do que o mundo... o mundo visto de perto nos seus meandros mais nus, despidos de maquiagem e de photoshop. É da lente de um brasileiro que surge a arte que choca a humanidade que se vê desumanizada.
      Encerro com as palavras de Salgado: "Espero que tanto como indivíduos, grupos ou uma sociedade, façamos uma pausa para pensar na condição humana na virada do milênio. Na sua forma mais brutal, o individualismo continua sendo uma fórmula para catástrofes. É preciso repensar a forma como coexistimos no mundo."


Heitor Nogueira.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Ana Miranda - Desmundo. [parte 1]

Apesar de ter nascido em Fortaleza, em agosto de 1951, Ana Miranda viveu grande parte de sua vida fora do Ceará. Já aos cinco anos de idade, mudou-se para o Rio de Janeiro e em 1959 foi para Brasília. Chegou a estudar Artes no Rio de Janeiro. A autora, como se vê, cresceu nas cidades que mais intensamente viveram os efeitos das radicais transformações e da efervescência na vida política, social e, sobretudo, cultural do país. Nesse período, podemos destacar a bossa nova, a contracultura hippie, os festivais de música que deram origem ao Tropicalismo, principal movimento cultural da época, isso tudo em meio a ditadura militar que exercia forte repressão. Enfim, Ana Miranda é de uma geração que não consegue, e nem tenta, ignorar a história. É essa história que figura em sua obra como principal cerne, adornado pela sua ficção internacionalmente reconhecida.

Ana Miranda publicou vários livros entre poesias, romances, crônicas e contos. Estreou com o livro de poesia Anjos e Demônios, em 1978, mas foi seu primeiro romance, Boca do Inferno, publicado em 1989, que rendeu a escritora o reconhecimento nacional e internacional, prova disso está no grande número de traduções do livro. A obra foi publicada na França, Inglaterra, Itália, Estados Unidos, Argentina, Noruega, Espanha, Suécia, Dinamarca, Holanda e Alemanha. Já nesse primeiro romance, notamos a propensão de Ana Miranda ao romance histórico, fazendo dessa obra uma recriação histórico-literária do Brasil colonial, trazendo personagens como o poeta Gregório de Matos e o jesuíta Antônio Vieira. Por esse livro a autora recebeu o prêmio Jabuti, em 1990.


A recriação aparece também no livro publicado em 1996, Desmundo, objeto de estudo dessas linhas. Dessa vez, a recriação é feita na linguagem do século XVI, contando a história de órfãs mandadas de Portugal ao Brasil para se casar com os colonos. O romance histórico mistura história e ficção, reconstruindo ficticiamente acontecimentos, costumes e personagens. É nessa mistura que se edifica Desmundo, mescla-se fatos identificados na história do Brasil, com a viço ficcional edificado pela perspicaz escritora. Desse modo, ressaltaremos o veemente teor historiográfico da obra em análise nas linhas do próximo post que virá em breve.


Heitor Nogueira.

quarta-feira, 25 de março de 2009

José Saramago - A cegueira branca.

Em 1998, José Saramago tornou-se o primeiro escritor de língua portuguesa a receber o Prêmio Nobel de Literatura, com o Ensaio sobre a Cegueira. O português, nascido no dia 16 de novembro de 1922, em Azinhaga, aldeia ribatejana, muda-se aos dois anos para Lisboa onde freqüenta o ensino técnico, que, por razões financeiras, não conseguiu prosseguir. Exerceu a profissão de serralheiro mecânico, funcionário de saúde e previdência, tradutor, editor e jornalista. Em 1969, torna-se membro do Partido Comunista Português. A partir de 1976, dedica-se exclusivamente ao seu trabalho literário, primeiro como tradutor, depois como autor. Hoje vive com a esposa Pillar Del Rio na ilha de Lanzarote (Canárias) de onde lança ao mundo críticas contundentes à sociedade contemporânea.
Logo a partir da epígrafe do Ensaio sobre a Cegueira - “Se podes olhar, vê. Se podes ver. Repara.”- podemos notar a síntese da temática contida nas páginas seguintes. A gradação que se faz em olhar, ver e reparar anuncia a crítica social diluída nas trezentas e dez páginas de uma das mais consistentes obras da literatura mundial. A frase atribuída ao “Livro dos Conselhos”, implicitamente, faz a distinção entre a visão meramente física, parte dos cinco sentidos humanos, da percepção dotada de criticidade que faz reparar o mundo e refletir sobre ele.
Ensaio Sobre a Cegueira aborda uma sociedade que se viu assolada por uma epidemia de cegueira branca inexplicável, sem cura, sem precedentes que acaba sendo disseminada por toda a cidade. Primeiramente, manifesta-se em um homem no trânsito e vai se alastrando por toda a população, poupando apenas uma mulher. À medida que os infectados pela epidemia são colocados em quarentena num sanatório, as condições desumanas vão se agravando. A falta de alimento causada pela superlotação faz intensificar a degradação dos confinados.
A cegueira branca representa no romance não só a impossibilidade física de enxergar, mas também a alienação em que a sociedade está mergulhada. Essa conotação edifica na cegueira branca uma verdadeira metáfora. A alienação é a cegueira que não é fisiológica, mas também impede de enxergar, ou “reparar” a realidade social, como sugere a epígrafe. Essa cegueira desencadeia uma série de situações caóticas; da podridão gerada pelo acúmulo de fezes e de lixo pelo chão, ao abuso sexual em troca de comida. O alcance semântico que a obra almeja reflete a perda da essência humana na modernidade, resultado do individualismo, em detrimento da capacidade de indignação perante os desconfortos causados por um mundo violento e regido pela frágil figura estatal.
Sobre a relação do título com o conteúdo da obra, podemos identificar, mais uma vez, a perspicácia do Nobel de Literatura. Ensaio sobre a Cegueira tem o formato de romance (texto ficcional em prosa com pluralidade e simultaneidade dramáticas), no entanto, como o título anuncia, há, em suas entrelinhas, um verdadeiro ensaio (texto crítico onde o autor expõe suas idéias e reflexões a cerca de um tema). A narrativa ficcional dá forma artística aos elementos pertencentes à forma ensaística. À medida que os fatos acontecem na narrativa, vão se desenhando as críticas de forte teor social.
A protagonista da história é a “mulher do médico”, pois é a única não atingida pela cegueira branca. É como uma líder para o grupo, guiando-os para todos os lugares. Mulher forte, sensível, preocupada com o bem-estar do grupo. Nela se centra o sofrimento de enxergar, quando todos estão cegos. O sofrimento de poder ver a degradação provocada pela epidemia de cegueira branca. A personagem supera o papel de submissão e silêncio imposto às mulheres há séculos, assumindo o poder de decisão sobre o destino do grupo. Supera a crença de inferioridade que comumente é atribuída a elas. A solidariedade, sensibilidade, compaixão, da figura feminina contrapõe-se a agressividade, perversidade que há também na sociedade de cegos. Há, portanto, no romance-ensaio de Saramago, uma crítica feroz à sociedade patriarcal.
Ainda como influência direta na obra, podemos notar alguns reflexos das idéias políticas de Saramago. São os sutis traços marxistas que, em suma, traduzem que a valorização do mundo das coisas aumenta, em proporção direta, a desvalorização do mundo dos homens. Desse modo, a sociedade obcecada por valores materiais não enxerga a sua própria essência.
O Ensaio sobre a Cegueira tece crítica à sociedade capitalista, não no tom explícito da literatura engajada, mas sim na sutileza de uma prosa envolvente. A situação caótica narrada no livro evidencia a duplicidade de atitudes estabelecidas pelo indivíduo na atual estrutura social; o humano e o desumano, a solidariedade e a perversão. O homem se vê desumanizado. “Cegos que, vendo, não vêem."



Heitor Nogueira.


PS.:Texto adaptado do artigo que será defendido oralmente na VI Semana de Humanidades - UFC.
PS.2: O LIVRO GEROU O FILME HOMÔNIMO INDICADO AO LADO.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Machado - Um século de vida em obra.

A data que se cumpriu em 29 de setembro de 2008 marcou cem anos de morte de Machado de Assis. Tido pela maior parte da crítica como o mais importante intelectual da Literatura Brasileira,Joaquim Maria Machado de Assis produziu textos nos mais variados gêneros (romance, conto, poesia, crônica). Através desses textos que Machado cria uma nova linguagem que ainda hoje inspira muitos escritores do porte de Gabriel García Márquez.
Cabe-nos destacar que Machado nasceu no morro do Livramento (subúrbio do Rio de Janeiro), teve pai negro, pintor de paredes, e mãe portuguesa, lavadeira. Tais informações revelam a condição social do escritor, pois, sendo ele mulato e pobre, teve contato direto com a margem social carioca. Dessa forma, incide na sua obra, essencialmente realista, temáticas que mantêm coerência entre a sua ficção e a sociedade de classes carioca. Essas características biográficas acentuam sua sensibilidade. Pelo fato de ter vivido nessas circunstâncias, a visão machadiana do mundo não é restrita a aristocracia, nem mesmo, aos oprimidos, pois o aparato temático de sua literatura nos traz uma visão global, panorâmica, da sociedade. Dessa forma, ele é o nome da literatura que conseguiu captar o Brasil de maneira mais completa.
Do ponto de vista histórico-literário, a obra de Machado de Assis é uma reflexão sobre vários momentos da história brasileira. Dentre os acontecimentos do século XIX, Machado registra em sua ficção a Abolição dos escravos, os partidos da República, a corte no Segundo Reinado... Ele achava que a abolição dos escravos marcava a substituição de um sistema opressor por outro.Ainda na perspectiva história, podemos destacar que é atribuído ao romance Memórias Póstumas de Brás Cubas o marco inicial da estética realista no Brasil. Também é histórica a sua participação na fundação da Academia Brasileira de Letras, tornando-se seu primeiro presidente.
Sobre as temáticas,faz-se notar que são dotadas de universalidade, ou seja, os temas abordados em sua literatura são comuns aos homens de toda parte, isto é, em sua expressão literária, retrata a essência humana. Dentre tais temáticas destacamos: o amor passional, o ciúme, a morte, a firmação pessoal, a relação entre o ser e o parecer, a burguesia em ascensão... Ao escolher essas temáticas, o Bruxo do Cosme Velho (apelido de Machado, pois foi nessea rua que passou a maior parte de sua existência), desenvolve motivos que, ao mesmo tempo em que retratam o presente, fazem referência ao passado e se projetam para o futuro. Esse é um dos fatores que explica a atualidade de sua obra no mundo literário.
Não é porque Machado retrata sua época que ficará preso em um viés semântico.Pelo contrário, ao dizer de um tempo, diz de todos os tempos, integrando presente, passado e futuro. Portanto, a linguagem polissêmica assegura à sua literatura a permanência e atemporalidade.Parte da multissignificação, a ambigüidade que inquieta seus leitores. No romance Dom Casmurro, Machado trata do possível adultério de Capitu. É uma das obras literárias brasileiras mais abertas a interpretação, porque o escritor deixou em suspense ao longo da narrativa a suposta traição da mulher de Bentinho com Escobar. Portanto, não temos elementos satisfatórios para uma resposta positiva nem negativa, o que caracteriza a ambigüidade.
Machado não constrói suas letras na obviedade da literatura engajada, mas sim na sutil crítica a estrutura social brasileira (agrária, escravocrata, conservadora). Suas meias palavras são mais devastadoras do que qualquer crítica direta desprovida do viço ficcional.
Na produção de contos, Machado destaca as relações humanas em âmbito de universalização. Desse modo, o triângulo amoroso do conto “A Cartomante”, a atmosfera de sedução do conto “Missa do Galo”, a crítica a afirmação pessoal do conto “O Espelho”, partilham do que se diz comum ao homem de qualquer parte do mundo. Em seus contos, o que importa é ainda o sentir das personagens, mais do que as ações, a trama, o espaço. Nesse sentido, Machado é fonte inspiradora para as gerações seguintes de contistas.
Por fim, é mister concluir que toda sua trajetória , o talento, o apuro da técnica ficcional, a qualidade estética contribuem para sua imortalidade na Literatura. Portanto, esse século transcorrido da morte de Machado de Assis tem mais é que ser celebrado como vida de uma obra literária imponente.
Heitor Nogueira.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Clarice Lispector - Estilo.

Clarice desenvolveu um estilo literário ímpar. Com livros marcados por singularidades e inovações lingüísticas, a escritora encabeça a lista dos que mais incorporaram traços inéditos à literatura nacional.

A ficção clariceana se concentra nas regiões mais profundas do inconsciente, ficando em segundo plano o meio externo, pois quase tudo se resume à mente das próprias personagens. Portanto, Lispector é o principal nome de uma tendência intimista em nossa literatura. O ser, o estar no mundo, o intimismo formavam o eixo principal de questionamentos tecidos em seus romances introspectivos. Não centra sua obra no social, no romance engajado, mas sim no indivíduo e suas mais íntimas aflições, reproduzindo pensamentos das personagens.

Artifício largamente utilizado por James Joyce, Proust e, sobretudo, Virgínia Woolf [indico ao lado livro da escritora inglesa], o fluxo da consciência marca indelevelmente a literatura de Clarice. Tal aspecto consiste em explorar a temática psicológica de modo tão profundo que o assunto nunca é completamente explorado, ou seja, as diversas possibilidades de análise psicológicas e a complexividade da temática contribuem para a inesgotabilidade do assunto.O fluxo da consciência indefine as fronteiras entre a voz do narrador e a das personagens, de modo que reminiscências, desejos, falas e ações se misturam na narrativa num jorro desarticulado, descontínuo que tem essa desordem representada por uma estrutura sintática caótica. Assim, o pensamento simplesmente flui livremente, pois as personagens não pensam de maneira ordenada, mas sim de maneira conturbada e desconexa. Portanto, é a espontaneidade da representação do pensamento das personagens que caracteriza o caos de tal marca literária.

O monólogo interior é outro artifício utilizado por Clarice que contribui para a construção da atmosfera introspectiva. Essa técnica consiste em reproduzir o pensamento da personagem que se dirige a si mesmo, ou seja, é como se o “eu” falasse pra si próprio. Registra-se, portanto, o mergulho no mundo interior da personagem que revela suas próprias emoções, devaneios, impressões, dúvidas, enfim, sua verdade interior diante do contexto que lhe é posto.

Muitos críticos afirmam que Clarice Lispector é a pioneira no emprego da epifania na prosa brasileira. “No sentido literário, a "epifania" é um momento privilegiado de revelação, quando acontece um evento ou incidente que "ilumina" a vida da personagem.” Assim, pode-se dizer que nos textos de Lispector, o objetivo maior é o momento da epifania: por meio de uma espécie de revelação (o que se dá por meio de um fato inusitado), a personagem descobre que vive num mundo absurdo, causando um desequilíbrio interior que, por sua vez, provocará uma mudança radical na vida da personagem.

É também peculiaridade da autora a construção de frases inconclusas e outros desvios da sintaxe convencional, além da criação de alguns neologismos. Clarice não adota o padrão da gramática normativa, pois tem na valorização da expressividade do texto a regra primordial de sua literatura. Assim, as frases não são feitas com o rigor gramatical e coerente, mas sim com o primor e o viço da expressão artística.

Enfim, podando os excessos e desconsiderando os modismos, Clarice figura entre os melhores escritores da Literatura Brasileira.
Heitor Nogueira.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Literatura de Cordel.



"Sou um poeta do mato/ vivo afastado dos meios/ minha rude lira canta/casos bonitos e feios/ eu canto meus sentimentos/ e os sentimentos alheios"(Patativa do Assaré)


Trazida para cá pelos portugueses, a literatura de cordel se consolidou no Nordeste brasileiro, adquirindo características peculiares. Há indícios que remetem a origem do cordel à Portugal e Espanha, mas, ainda na Antigüidade, gregos, romanos e fenícios desenvolviam narrativas que tinham aspectos semelhantes as produzidas na Península Ibérica. Existe também a hipótese do cordel ter sido cultivado a partir do Trovadorismo da região de Provença, sul da França. Portanto, como manifestação popular, a literatura de cordel tem origem incerta, ou pelo menos controvertida, sendo uma espécie de compilação de características agregadas no decorrer do tempo, sem data, nem local definidos. Já o nome cordel, que nos foi legado de Portugal, está relacionado à forma com que os folhetos eram postos para venda: pendurados em cordões, lá chamados de cordéis.
Cordel é uma narrativa poética, cuja temática se apresenta, por demais, diversificada. A religiosidade do sertanejo, levando à mitificação de figuras como padre Cícero, o cangaço, registrando as proezas de Lampião, o adultério, permeando com marcas humorísticas os causos contados e o êxodo rural motivado pela seca são temáticas recorrentes, expressadas de maneira genuinamente nordestina, obedecendo às tradições orais do sertanejo, isto é, a espontaneidade da fala matuta.
A versatilidade do cordel é comprovada quando analisamos suas diversas finalidades Além de retratar a realidade do sertanejo, que sofre, que reza, que foge da seca, é também utilizado como recurso publicitário. Fruto de encomenda em prol do setor comercial, muitas vezes, o cordel é produzido para vincular informações sobre produtos, shoppings, supermercados e até mesmo políticos. Dessa forma, é bem verdade que o cordel perde o viço peculiar do ritual poético, para edificar figuras ideais que possam promover o consumo, conseqüentemente, o lucro.
A literatura de cordel é feita para ser cantada, ou seja, o apelo sonoro dos versos faz com que o texto só seja por completo explorado quando lido em voz alta. A rima do cordel advém da oralidade em que o cordelista constrói a narrativa. Portanto, os versos do cordel são feitos para os ouvidos, não para os olhos, daí a necessidade de se recitar.
Se os versos aguçam a audição, a xilogravura da capa oferece à visão o apuro dos cortes feitos na madeira. Produzida artesanalmente, a xilogravura apresenta-se ao leitor como uma ilustração que antecipa o conteúdo do texto, anunciando a temática a ser narrada.Veja:

A literatura de cordel exprime, de maneira singular, a rica cultura de um povo que, apesar de sofrido, tem fé e coragem para resistir ao flagelo do semi-árido nordestino. É dessa terra, longe de ser garrida, que brota a inspiração, a verdadeira Inspiração Nordestina de Patativa do Assaré, e a influência para vários poetas e prosadores como João Cabral de Melo Neto, Ariano Suassuna e Guimarães Rosa.


Heitor Nogueira.