Em 1998, José Saramago tornou-se o primeiro escritor de língua portuguesa a receber o Prêmio Nobel de Literatura, com o Ensaio sobre a Cegueira. O português, nascido no dia 16 de novembro de 1922, em Azinhaga, aldeia ribatejana, muda-se aos dois anos para Lisboa onde freqüenta o ensino técnico, que, por razões financeiras, não conseguiu prosseguir. Exerceu a profissão de serralheiro mecânico, funcionário de saúde e previdência, tradutor, editor e jornalista. Em 1969, torna-se membro do Partido Comunista Português. A partir de 1976, dedica-se exclusivamente ao seu trabalho literário, primeiro como tradutor, depois como autor. Hoje vive com a esposa Pillar Del Rio na ilha de Lanzarote (Canárias) de onde lança ao mundo críticas contundentes à sociedade contemporânea.
Logo a partir da epígrafe do Ensaio sobre a Cegueira - “Se podes olhar, vê. Se podes ver. Repara.”- podemos notar a síntese da temática contida nas páginas seguintes. A gradação que se faz em olhar, ver e reparar anuncia a crítica social diluída nas trezentas e dez páginas de uma das mais consistentes obras da literatura mundial. A frase atribuída ao “Livro dos Conselhos”, implicitamente, faz a distinção entre a visão meramente física, parte dos cinco sentidos humanos, da percepção dotada de criticidade que faz reparar o mundo e refletir sobre ele.
Ensaio Sobre a Cegueira aborda uma sociedade que se viu assolada por uma epidemia de cegueira branca inexplicável, sem cura, sem precedentes que acaba sendo disseminada por toda a cidade. Primeiramente, manifesta-se em um homem no trânsito e vai se alastrando por toda a população, poupando apenas uma mulher. À medida que os infectados pela epidemia são colocados em quarentena num sanatório, as condições desumanas vão se agravando. A falta de alimento causada pela superlotação faz intensificar a degradação dos confinados.
A cegueira branca representa no romance não só a impossibilidade física de enxergar, mas também a alienação em que a sociedade está mergulhada. Essa conotação edifica na cegueira branca uma verdadeira metáfora. A alienação é a cegueira que não é fisiológica, mas também impede de enxergar, ou “reparar” a realidade social, como sugere a epígrafe. Essa cegueira desencadeia uma série de situações caóticas; da podridão gerada pelo acúmulo de fezes e de lixo pelo chão, ao abuso sexual em troca de comida. O alcance semântico que a obra almeja reflete a perda da essência humana na modernidade, resultado do individualismo, em detrimento da capacidade de indignação perante os desconfortos causados por um mundo violento e regido pela frágil figura estatal.
Sobre a relação do título com o conteúdo da obra, podemos identificar, mais uma vez, a perspicácia do Nobel de Literatura. Ensaio sobre a Cegueira tem o formato de romance (texto ficcional em prosa com pluralidade e simultaneidade dramáticas), no entanto, como o título anuncia, há, em suas entrelinhas, um verdadeiro ensaio (texto crítico onde o autor expõe suas idéias e reflexões a cerca de um tema). A narrativa ficcional dá forma artística aos elementos pertencentes à forma ensaística. À medida que os fatos acontecem na narrativa, vão se desenhando as críticas de forte teor social.
Logo a partir da epígrafe do Ensaio sobre a Cegueira - “Se podes olhar, vê. Se podes ver. Repara.”- podemos notar a síntese da temática contida nas páginas seguintes. A gradação que se faz em olhar, ver e reparar anuncia a crítica social diluída nas trezentas e dez páginas de uma das mais consistentes obras da literatura mundial. A frase atribuída ao “Livro dos Conselhos”, implicitamente, faz a distinção entre a visão meramente física, parte dos cinco sentidos humanos, da percepção dotada de criticidade que faz reparar o mundo e refletir sobre ele.
Ensaio Sobre a Cegueira aborda uma sociedade que se viu assolada por uma epidemia de cegueira branca inexplicável, sem cura, sem precedentes que acaba sendo disseminada por toda a cidade. Primeiramente, manifesta-se em um homem no trânsito e vai se alastrando por toda a população, poupando apenas uma mulher. À medida que os infectados pela epidemia são colocados em quarentena num sanatório, as condições desumanas vão se agravando. A falta de alimento causada pela superlotação faz intensificar a degradação dos confinados.
A cegueira branca representa no romance não só a impossibilidade física de enxergar, mas também a alienação em que a sociedade está mergulhada. Essa conotação edifica na cegueira branca uma verdadeira metáfora. A alienação é a cegueira que não é fisiológica, mas também impede de enxergar, ou “reparar” a realidade social, como sugere a epígrafe. Essa cegueira desencadeia uma série de situações caóticas; da podridão gerada pelo acúmulo de fezes e de lixo pelo chão, ao abuso sexual em troca de comida. O alcance semântico que a obra almeja reflete a perda da essência humana na modernidade, resultado do individualismo, em detrimento da capacidade de indignação perante os desconfortos causados por um mundo violento e regido pela frágil figura estatal.
Sobre a relação do título com o conteúdo da obra, podemos identificar, mais uma vez, a perspicácia do Nobel de Literatura. Ensaio sobre a Cegueira tem o formato de romance (texto ficcional em prosa com pluralidade e simultaneidade dramáticas), no entanto, como o título anuncia, há, em suas entrelinhas, um verdadeiro ensaio (texto crítico onde o autor expõe suas idéias e reflexões a cerca de um tema). A narrativa ficcional dá forma artística aos elementos pertencentes à forma ensaística. À medida que os fatos acontecem na narrativa, vão se desenhando as críticas de forte teor social.
A protagonista da história é a “mulher do médico”, pois é a única não atingida pela cegueira branca. É como uma líder para o grupo, guiando-os para todos os lugares. Mulher forte, sensível, preocupada com o bem-estar do grupo. Nela se centra o sofrimento de enxergar, quando todos estão cegos. O sofrimento de poder ver a degradação provocada pela epidemia de cegueira branca. A personagem supera o papel de submissão e silêncio imposto às mulheres há séculos, assumindo o poder de decisão sobre o destino do grupo. Supera a crença de inferioridade que comumente é atribuída a elas. A solidariedade, sensibilidade, compaixão, da figura feminina contrapõe-se a agressividade, perversidade que há também na sociedade de cegos. Há, portanto, no romance-ensaio de Saramago, uma crítica feroz à sociedade patriarcal.
Ainda como influência direta na obra, podemos notar alguns reflexos das idéias políticas de Saramago. São os sutis traços marxistas que, em suma, traduzem que a valorização do mundo das coisas aumenta, em proporção direta, a desvalorização do mundo dos homens. Desse modo, a sociedade obcecada por valores materiais não enxerga a sua própria essência.
O Ensaio sobre a Cegueira tece crítica à sociedade capitalista, não no tom explícito da literatura engajada, mas sim na sutileza de uma prosa envolvente. A situação caótica narrada no livro evidencia a duplicidade de atitudes estabelecidas pelo indivíduo na atual estrutura social; o humano e o desumano, a solidariedade e a perversão. O homem se vê desumanizado. “Cegos que, vendo, não vêem."
O Ensaio sobre a Cegueira tece crítica à sociedade capitalista, não no tom explícito da literatura engajada, mas sim na sutileza de uma prosa envolvente. A situação caótica narrada no livro evidencia a duplicidade de atitudes estabelecidas pelo indivíduo na atual estrutura social; o humano e o desumano, a solidariedade e a perversão. O homem se vê desumanizado. “Cegos que, vendo, não vêem."
Heitor Nogueira.
PS.:Texto adaptado do artigo que será defendido oralmente na VI Semana de Humanidades - UFC.
PS.2: O LIVRO GEROU O FILME HOMÔNIMO INDICADO AO LADO.
34 comentários:
Cegos que, vendo, não vêem. Ta massa essa frase.
Apesar da historia ser fantastica, e do filme ser mto bem falado, tanto pelo diretor, como atores, não tive coragem de assistir esse filme..só de ver o resumo da historia, ja me deu agonia pensar numa cidade onde todas as pessoas ficam cegas.
Memso assim,Saramago é um brilhante escritor!
http://redescobrindosp.blogspot.com
Saramago não é o meu escritor preferido, nem o admiro mto como pessoa, mas não devo e nem posso negar a qualidade como literário, o seu valor, é grande sim!
=D
vou precisar ler esse livro para visualizar meçhor o que vc diz aqui.
Saramago me dá raiva.
Na verdade um misto de raiva e inveja.
Sempre leio seus livros como em apneia. Quando vejo já foi.
Um talento, uma pontuação, um conteúdo que me da vontda de resgar meus escritos e tentar o futebol.
BacAna seu blog.
Seus post é quase que um oásis na Blogsfera, mostrando que existe vida inteligente neste universo.
Ufa.
Ah, se puder passe por lá e leia meus escritos.
Sua opinião seria bem bacana.
:)
http://martonolympio.blogspot.com/
bem legal o blog!!!
parabéns!!
Nossa! Esse livro é tudo de bom mesmo.Comecei a ler na net, mas estava cheiro de erros o arquivo e só sei ler com papel e caneta do lado.(mania porque aprendi ler lendo a Bíblia)
Quando tiver grana vou por na minha listinha de compras.
Ainda não consegui ver esse filme,
queria muito ver!
www.casadobesouro.blogspot.com
li apenas uma parte do livro e pretendo lê-lo por completo assim que tiver tempo de me dedicar a ele.
Realmente, no pouco que pude ler, já se pode perceber a maestria de Saramago ao descrever as situações do livro.
http://clik.to/otherside
Muito interessante o seu blog... adoro literatura...
Parabens...
http://webmaster-jp.blogspot.com/
Ainda não li este livro e não vi o filme. Mas, lendo tee texto, concordo com a idéia que o homem está se degradando. Cegos que, vendo, não vêem.
Oi Heitor!
O resultado do sorteio sai hoje, no fim da tarde.
Abraços
Infelizmente, não conheço muito desse autor, mas já ouvi falar muito de suas obras... Assim que terminar o que estou lendo, vejo se conheço algo dele. ^^
Parabéns pelo blog! Parece ter bastante conteúdo e é muito interessante. Adoro literatura *0*
http://cantodoescritor.blogspot.com/
Eu vi o filme antes de ler o livro.. sim, errei.. mas achei o filme ótimo, portanto o livro deve ser tão bom quanto senão melhor.
Ótimo seu texto.
É hora de reconhecer o Saramago. Escritor que em sua pátria viu seus livros proibidos, talvez porque diga as verdades em tons de realce e sem o misticismo cultural do metafisismo lusitano.
Ainda não li o livro, mas vi recentemente o filme, muito emocionante... Parabéns pelo post!
Abraços
bacana irmão seu post,gostei,parabéns.
abraços
Hum deu vontade de ler o livro...parabéns !!!
ja leu ANTALOGIA (acho que é isso)... não consigo passar do primeiro capítulo... tem horas que saramango castiga demais
Ainda não assisti o filme. Quero ler antes. O problema é arrumar tempo.
Um abraço!
http://eu-amo-a-ey.blogspot.com/
muito bom o blog!!!!
Estou estudando mais a respeito da Literatura de Portugal hihihi para ver se encaro Letras mesmo hihihi ^^ adorei sua postagem, grande abraço! =)
neowellblog.wordpress.com
Sua análise tornou-me ainda mais curioso em devorar as páginas de tão recomendável obra literária. Sou grande defensor da disseminação de obras que nos façam refletir, questionar nosso posicionamento perante à sociedade, e parece que a narrativa de "Ensaio" seja ela em páginas ou cenas representa bem esse papel.
Parabéns pelo blog, amo literatura!
Cara...ele já recebeu o prêmio Nobel de Literatura? Que massa!! Ele, com certeza, foi um grande escritor, e o filme "Ensaio Sobre a Cegueira" deve ser muito bom, assim como o livro!!^^
Beijos
Estética Literária tbm é cultura.
Devido a um amigo que me fez o favor de entregar spoilers do livro, acabei não lendo e ainda não assisti o filme. Mas é inegável que devem ser muito bom!
Ótimo blog intelectualóide e cult, tenho certeza que vários amigos vão gostar, assim como eu.
Muito obrigado pela visita no meu blog, tenho a impressão que não deve ser muito seu estilo, mas pelo comentário, aparentemente você leu. Muito Obrigado mesmo!
Novas visistas serão muito bem vindas, assim como as minhas aqui, espero.
Samargo deve ser um brilhante escritor mais não sei se gostaria de assistir um filme kee todo mundo é cego sei lá , estranho '-'
Que legal ,um blog que fala de literatura,vou segui-lo
Eu já ouvi falar dele, mas ainda não li o livro.
infelizmente não sei muito sobre José Saramago... Mas estou louca pra ver o filme...
Beijos!
http://ostralouca.blogspot.com/
Muito show seu blog!
Parabéns!
Passa no meu também pra uma visita.
bjo
confesso que não sou fã do estilo do saramago, lí o ensaio mas, curiosamente, preferi o filme do fernando meirelles. por outro lado, adoro o blog dele.
Muito legal o seu blog.
Ao ler resumos, muito me ajudou para pensar a respeito do que farei em relação à leitura interpretativa em meu trabalho de Literatura.Sou fã de Litaratura portuguesa; meu poeta favorito é Fernando Pessoa, mas Saramago nos dá lições de vida em seus livros. Lindo demais!
Sou "maluca" por Literatura!
Um abraço a todos.
*Literatura.
Muito bom seu blog, e o post sobre Saramago.
Apesar do que dizem - não sem certa dose de razão - do estilo dele, eu gosto. Posso dizer que me acostumei.
No caso do ensaio sobre a cegueira, gostei bastante. Há passagens geniais nele. E é dos poucos exemplos em que o filme não perde tanto para o livro (e olhe que fazer filme sobre cegueira não é fácil).
Dado curioso, que ele repete em outras obras, é a falta de nomes. A mulher do médico, a rapariga dos óculos escuros, a camareira etc.
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